Paris, 23 set (EFE) - Marcel Marceau, o mímico mais famoso do mundo, morreu aos 84 anos no último sábado, depois de seis décadas ultrapassando fronteiras com seus gestos melancólicos e as histórias mudas de seu famoso personagem Bip.
A família do artista francês, que inicialmente não forneceu mais detalhes sobre a morte de Marceau além de que tinha ocorrido no sábado, anunciou que ele será enterrado no cemitério de Père Lachaise, em Paris, nos próximos dias.
O gênio da mímica, que foi responsável por revitalizar a arte a partir do final dos anos 40, se inspirava nos grandes atores do cinema mudo, como Buster Keaton, Harry Langdon e sobretudo Charles Chaplin, pelo qual desde criança já mostrava admiração e que gostava de imitar.
O artista francês nasceu em Estrasburgo em 22 de março de 1923. Em 1944, fez parte da resistência contra a ocupação da França pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, depois que seu pai, de origem judaica, foi detido e levado ao campo de concentração de Auschwitz, onde morreu.
Foi durante este conflito que, para escapar da perseguição anti-semita, mudou seu sobrenome de Mangel para Marceau.
Após o fim da Guerra, começou a estudar artes decorativas em Limoges, mas se voltou para o teatro após ingressar na Escola de Arte Dramática Charles Dullin, onde estabeleceu um forte vínculo com um de seus professores, Etienne Decroux, que foi fundamental para a sua inclinação à mímica.
O ano de 1947 marcou uma inflexão em sua carreira, com a fundação de uma companhia própria.
Neste ano também foi criado o personagem Bip, que o acompanhou pelo resto de sua vida, identificado por seu perfil delgado, seu rosto pintado de branco, as calças largas de palhaço, a camisa de marinheiro e uma expressão corporal aparentemente frágil, mas cheia de vitalidade.
Marceau tornou Bip um ser marcado pela sensibilidade, pela melancolia e pela poesia que surgia da representação através dos movimentos corporais e que permitiu que explorasse a sociedade moderna focando sua dimensão trágica.
Seus espetáculos, entre o teatro e a dança, alcançaram fama internacional a partir de meados dos anos 50 e constituíram uma revisão moderna da tradição da dramaturgia da "Commedia dell'Arte" italiana.
Rapidamente se tornou famoso na França e em países como o Japão e Estados Unidos, onde sua "caminhada contra o vento" se tornou uma das bases técnicas da dança de Michael Jackson.
O mestre da mímica levou alguns de seus passos ao cinema e teve papéis de destaque em "Barbarella", de Roger Vadim (1968), e "A Última Loucura de Mel Brooks" (1976).
Em 1978, quando estava no auge de sua carreira, fundou em Paris uma Escola Internacional do Mimodrama para garantir um substituo em sua arte do gesto, à qual acrescentava também técnicas de dança, de acrobacia com bastão e de teatro, com o foco no que ele mesmo chamou de "criação total".
Marcel Marceau, que recebeu as máximas distinções oficiais na França, como a Legião de Honra e as condecorações da Ordem Nacional do Mérito e das Artes e das Letras, não conseguiu sustentar o centro de formação, que fechou em 2005 por falta de financiamento.
Graças a sua energia, continuou subindo aos palcos quase até o final de sua vida.
Desta forma, em 2000 organizou uma turnê intitulada "Les Premiers Adieux de Bip" (As primeiras despedidas de Bip), que foi seguida em 2002 por "Le retour du mime Marceau" (A volta do mímico Marceau), e por uma nova turnê pela América Latina em 2005 com "Le meilleur de Marceau" (O melhor de Marceau).
O gênio da mímica, que gostava muito de conversar, afirmava que, apesar de tudo, "a palavra não é necessária para expressar o que se tem no coração".
Ao ser anunciada a notícia de sua morte, muitas personalidades o homenagearam, entre elas o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que manifestou "emoção, admiração e respeito" pelo mímico, o qual chamou de "um dos embaixadores mais eminentes" do país.
O primeiro-ministro, François Fillon, lembrou o "artista", o "mestre" e o "resistente", e lembrou que suas "histórias sem palavras" tinham o dom raro de poder se comunicar pelo mundo todo além da barreira da linguagem. EFE
FONTE: G1
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