POETA EXTREME

Você já imaginou escrever um poema minutos após sofrer um acidente? Geralmente escrevemos quando nossos sentimento se afloram de alguma forma e nos impulsionam... mas e se esse afloramento fosse corporal? Se a dor fosse essa "força motriz"? Algumas coisas na vida não se planejam... elas apenas acontecem. Se a cicatriz na pele arde, a tinta no papel... arte.

QUANDO MEUS PÉS SE VÃO

Jonattan Honorato

QUANDO MEUS PÉS SE VÃO
MINHA MENTE NÃO PENSA
PESA EM MEU CORPO TUDO, ATÉ UM GRÃO.
UM FIO DE CABELO, QUE SEJA, PESA!

A CARNE DOS MEUS BRAÇOS FEITO CARNE
DILACERADA CONTRA O POROSO CONCRETO
NÃO SÃO SUFICIENTES PARA IMPEDIR O DESTINO CERTO...

QUANDO MEUS PÉS SE VÃO
O MUNDO É CHÃO.

OU TALVEZ ESCADA...

A SEGUNDA NESSE CASO MAIS ACERTADA
ESMAGA MEUS GLÚTEOS, ESPANCA AS COSTAS, PANCADA...
LANCE A LANCE IA ESCORRENDO, “DE-GRAU”,
JUNTO COM A ÁGUA AQUELE QUE É MUITO MAIS DENSO,
OU MENOS SE VIVO. EU TENTO.
A CABEÇA ERGUIDA COMO UM AFOGADO QUE BUSCA AR
O FINAL É “CARO”, CARRO, CANELA.
AS PALAVRAS SINCERAS, AS DORES “SÃO ELAS”!

O INTIMO VESTIMENTO OUTRORA BRANCO
AGORA VERMELHO E MOLHADO CAUSA ESPANTO
DESNUDO, PROCURO E SANGRO.
A DOR É MAIOR QUANDO SENTO E ANDO

JOGADO, MOLHADO, DOÍDO... RALADO.
NEM OUVI AS VOZES ME CHAMANDO.
ANTES DORMINDO AGORA ACORDADO
OLHAVA MEU SANGUE ESCORRENDO PRO RALO.

QUANDO MEUS PÉS SE VÃO
ACHO QUE VAI UM POUCO DE MIM...
O OUTRO POUCO NÃO PASSA DO CHÃO
E SUBEXISTE EM DOR, SUPORTÁVEL, SEM FIM.

QUANDO MEUS PÉS SE VÃO
TRÊS COISAS FICAM:
O APRENDIZADO, O CORPO DOÍDO, OS CURATIVOS...

PRIMEIRAMENTE O APRENDIZADO LEMBRA A TOLICE;
O CORPO DOÍDO LEMBRA QUE VIVO,
E QUE MERDAS ACONTECEM, NÃO SE EVITAM;
JÁ OS CURATIVOS... OS CURATIVOS PINICAM.

Por: Jonattan Honorato [21/10/07 as 06:42h]

Obs: Este poema foi escrito cinco minutos após eu ter caído da escada molhada na minha casa. Nove degraus abaixo, escrevi enquanto ainda sangrava.