quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O ATOR E SEUS “ARTESSUGAS” em banquete.


O ATOR E SEUS “ARTESSUGAS” em banquete.
Jonattan Honorato

Se me permitem falar do ator...
Todos são exagerados e explosivos.
Geram dentro de si segredos adstritos,
E em segundos estouram pro mundo arte pelo “umbigo”.
Como uma mãe que tem prazer em alimentar o filho,
Que lhe chuta, causa desconforto e dor...
Mas em seu prazer lhe dedica a vida.

“O ator...” isso nada quer dizer.
É um homem normal como eu e você.
O que ele tem de mais?!?

Talvez a questão seja realmente essa:
Ter demais ou dar tudo o que se tem?

Ascenda a luz do palco sobre o homem que ali se apresenta diante de tão grande nuvem de testemunhas... Ele está só e os olhos curiosos em massa lhe rodeiam a inquirir.
As inclinações nas cadeiras impacientes fazem o silêncio uivar como um lobo faminto.
O ator não tem poderes especiais, não tem habilidades sobre-humanas, mas ali, a poucos centímetros da platéia ele expõe tudo o que é como o Um que brada:
“Tudo que tenho te dou, levanta e anda!”.
Ainda que tudo que tenha seja ele mesmo.

E é exatamente nessa hora que eles avançam, os “Artessugas”!

Os “artessugas” são anelídeos da sub-classe Hirudínea, a mesma das sanguessugas, porém essas diferentes de sangue... sugam arte. Acoplam suas ventosas as ações do ator e libam sua essência... riem, choram, se emocionam, sentem prazer, desprezo, angustia... mamam feito bebês! Vieram ao mundo para receber, porém ao aderirem ao corpo do ser vivo de que se alimentam, segregam um “anticoartizante” que leva Arte a circular sem estancar. E uma vez unidos dão sentido a um espetáculo da vida do homem para o homem.

E quando tudo parece terminado... há de se perceber um novo começo.

Satisfeitos ou não, apupados ou ovacionados, todos sabem que algo aconteceu ali.
Uma nova dimensão, ainda que em concepção mental baseada nos sentidos foi criada, e ali mesmo desvaneceu ao encerrar das luzes. Ao descreverem as histórias daquele momento, irão perceber que elas se modificam, se transformam de pessoa pra pessoa, pois apesar de terem se alimentado da mesma matéria o Ator tratou com cada um individualmente sem que, na maioria das vezes, nem eles mesmos soubessem. E também dessa mesma forma singular eles trataram e nutriram o ator. O alimentaram a preparar um novo banquete, a convidá-los a vivenciar uma nova história, tudo pelo simples prazer de dar tudo o que se tem.

Enquanto existirem sonhos, existirão atores, enquanto existirem atores, existirá quem sonhe.
E já que este ciclo nunca termina...Um brinde a arte da cadeia alimentar!


Texto: Jonattan Honorato [Plataforma PVM2 15/11/07 as 16:48]

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