quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Palavras em gestos.

Mãos macias, protetoras, acolhedoras. Encontram-me e me fazem transcender. Antes nas minhas mãos, aquecem. Desabo em seu colo. Elas imergem-me ao tocarem minha face. Ato incestuoso. Nos olhamos, olhares que não se deslocam. Olhar-te é ver tudo que se passa dentro de mim. Sento. Minha vez. Minhas mãos tocam o teu rosto, é como tocar algodão e seda, seu rosto é macio.


Nossos corpos se aproximam cada vez mais. Moléculas que se atraem, equação química. Você (positivo) + Eu (negativo) = fusão, abraço. Paraliso te sentindo. Sua respiração, o calor do teu corpo, pulsar do teu coração. Imagens surgem para mim, seu sorriso é o mais presente nelas. Você é a única pessoa que sempre me faz bem (elemento químico positivo), e eu sempre te procuro com problemas (elemento químico negativo). Não que eu não queira saber sobre suas questões, só que você não diz. Aterrizo e volto para o conforto do corpo. Nos deitamos. Minha mão logo procura a sua. O carinho em nossas mãos se manifesta em um fluxo perfeito. Me sinto protegida. Dormimos de mãos dadas.

Acordo. Vejo que dormi com um anjo (talvez o meu anjo da guarda na terra). Observo-te com doçura. A vontade é de te acordar, mas seu semblante adormecido me transpassa paz.

Saio do quarto. Mas não agüento, a vontade é de estar protegida por suas mão novamente, sinto falta. Retorno ao seu quarto. “Bom dia, meu amor”. Te dou um beijo na face.

Nos levantamos para a ducha fria da realidade. Rotina que nos espera. Saio de casa quase sem conseguir me despedir, algo me pede para ficar sob tuas confortantes mãos. Mas tenho que ir e me enrijeço para o lado de fora.
 
(Júlia Veras )
 
- Fragmento da dramturgia "Entre palavras"