domingo, 26 de agosto de 2007

Poesias...



Se Eu Morresse Amanhã!
Se eu morresse amanhã, viria ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudades morreriaSe eu morresse amanhã!Quanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que manhã!Eu perdera chorando essas coroasSe eu morresse amanhã!Que sol! que céu azul! que dove n`alvaAcorda a natureza mais loucã!Não me batera tanto amor no peitoSe eu morresse amanhã!Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...A dor no peito emudecera ao menosSe eu morresse amanhã!
(Álvares de Azevedo)


Timidez
Basta-me um pequeno gesto,feito de longe e de leve,para que venhas comigoe eu para sempre te leve ...-mas só esse eu não farei.Uma palavra caídadas montanhas dos instantesdesmancha todos os marese une as terras mais distantes...- palavra que não direi.Para que tu me adivinhes,entre os ventos taciturnos,apago meus pensamentos,ponho vestidos noturnos,- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,os mundo vão navegando,nos ares certos do tempo,até não se sabe quando...
- e um dia me acabarei.
(Cecília Meireles)


A Máscara
Eu sei que há muito pranto na existência,Dores que ferem corações de pedra,E onde a vida borbulha e o sangue medra,Aí existe a mágoa em sua essência.No delírio, porém, da febre ardenteDa ventura fugaz e transitóriaO peito rompe a capa tormentóriaPara sorrindo palpitar contente.Assim a turba inconsciente passa,Muitos que esgotam do prazer a taçaSentem no peito a dor indefinida.E entre a mágoa que masc'ra eterna apoucaA humanidade ri-se e ri-se loucaNo carnaval intérmino da vida.
(Augusto dos Anjos)


Este Inferno de Amar

Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há de apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar...
Quem veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei;
Mas nesta hora a viver comecei...

(Almeida GARRET)


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