
Florbela Espanca
Eu ...Eu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho,e desta sorteSou a crucificada ... a dolorida ...Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,Impele brutalmente para a morte!Alma de luto sempre incompreendida!...Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber porquê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,Alguém que veio ao mundo pra me ver,E que nunca na vida me encontrou!
Eu ...Eu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho,e desta sorteSou a crucificada ... a dolorida ...Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,Impele brutalmente para a morte!Alma de luto sempre incompreendida!...Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber porquê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,Alguém que veio ao mundo pra me ver,E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
Lágrimas ocultasSe me ponho a cismar em outras erasEm que ri e cantei, em que era q'rida,Parece-me que foi noutras esferas,Parece-me que foi numa outra vida...E a minha triste boca doloridaQue dantes tinha o rir das Primaveras,Esbate as linhas graves e severasE cai num abandono de esquecida!E fico, pensativa, olhando o vago...Toma a brandura plácida dum lagoO meu rosto de monja de marfim...E as lágrimas que choro, branca e calma,Ninguém as vê brotar dentro da alma!Ninguém as vê cair dentro de mim!
Lágrimas ocultasSe me ponho a cismar em outras erasEm que ri e cantei, em que era q'rida,Parece-me que foi noutras esferas,Parece-me que foi numa outra vida...E a minha triste boca doloridaQue dantes tinha o rir das Primaveras,Esbate as linhas graves e severasE cai num abandono de esquecida!E fico, pensativa, olhando o vago...Toma a brandura plácida dum lagoO meu rosto de monja de marfim...E as lágrimas que choro, branca e calma,Ninguém as vê brotar dentro da alma!Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
TédioPasso pálida e triste. Oiço dizer"Que branca que ela é! Parece morta!"E eu que vou sonhando, vaga, absorta,Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...Que diga o mundo e a gente o que quiser!-O que é que isso me faz?... o que me importa?...O frio que trago dentro gela e cortaTudo que é sonho e graça na mulher!O que é que isso me importa?! Essa tristezaÉ menos dor intensa que frieza,É um tédio profundo de viver!E é tudo sempre o mesmo,eternamente...O mesmo lago plácido,dormente dias,E os dias,sempre os mesmos,a correr...
TédioPasso pálida e triste. Oiço dizer"Que branca que ela é! Parece morta!"E eu que vou sonhando, vaga, absorta,Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...Que diga o mundo e a gente o que quiser!-O que é que isso me faz?... o que me importa?...O frio que trago dentro gela e cortaTudo que é sonho e graça na mulher!O que é que isso me importa?! Essa tristezaÉ menos dor intensa que frieza,É um tédio profundo de viver!E é tudo sempre o mesmo,eternamente...O mesmo lago plácido,dormente dias,E os dias,sempre os mesmos,a correr...
Florbela Espanca
Desejos vãos Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa!Eu queria ser a Pedra que não pensa,A pedra do caminho, rude e forte!Eu queria ser o sol, a luz intensaO bem do que é humilde e não tem sorte!Eu queria ser a árvore tosca e densaQue ri do mundo vão é ate da morte!Mas o mar também chora de tristeza...As árvores também, como quem reza,Abrem, aos céus, os braços, como um crente!E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,Tem lágrimas de sangue na agonia!E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...Florbela Espanca - Fanatismo Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver!Não es sequer razão do meu viver,Pois que tu es já toda a minha vida!Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo , meu Amor, a lerNo misterioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!E, olhos postos em ti, digo de rastros:"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..."
Desejos vãos Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa!Eu queria ser a Pedra que não pensa,A pedra do caminho, rude e forte!Eu queria ser o sol, a luz intensaO bem do que é humilde e não tem sorte!Eu queria ser a árvore tosca e densaQue ri do mundo vão é ate da morte!Mas o mar também chora de tristeza...As árvores também, como quem reza,Abrem, aos céus, os braços, como um crente!E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,Tem lágrimas de sangue na agonia!E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...Florbela Espanca - Fanatismo Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver!Não es sequer razão do meu viver,Pois que tu es já toda a minha vida!Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo , meu Amor, a lerNo misterioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!E, olhos postos em ti, digo de rastros:"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..."

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